Resumo: Pai Benedito de Aruanda, através da mediunidade de Rubens Saraceni, conta-nos a história do Guardião da Meia Noite, que fôra um rico barão português que cometeu várias atrocidades enquanto encarnado e que, ao desencarnar, é feito de escravo das trevas e que, depois de muito sofrimento e aprendizado, passa a ser um guardião das Leis Divinas.
Trecho:
E eu pensei: “Como era poderoso o Guardião dos Sete Portais das Trevas”, que leu o meu pensamento. – Não pense que consegui o meu poder sendo um tolo. Sempre dormi com um olho aberto. Nunca deixei uma ofensa sem resposta, nem um inimigo mais fraco sem conhecer o meu poder. Nunca deixei de respeitar um igual ou de temer a um mais forte. Foi assim que consegui tanto poder. Também nunca saí da lei do carma. Não derrubo quem não merece, nem elevo quem não fizer por merecer. Não traio a ninguém mas também não deixo de castigar um traidor. Leve o tempo que for necessário, eu o castigo. Não castigo um inocente, mas não perdôo um culpado. Não dou a um devedor, mas não tiro de um credor. Não salvo a quem quer se perder, mas não ponho a perder quem quer se salvar. Não ajudo a morrer quem quer viver, mas não deixo vivo quem quer se matar. Não tomo de quem achar, mas não devolvo a quem perder. Não pego o poder do senhor da Luz, mas não recuso o poder do senhor das Trevas. Não induzo alguém a abandonar o caminho da Lei, mas não culpo quem dele se afastou. Não ajudo alguém que não queira ser ajudado, mas não nego ajuda a quem merecer. Sirvo à Luz, mas também sirvo às Trevas. No meu reino eu mando e sei me comportar. Não peço o impossível mas dou apenas o possível. Nem tudo que me pedem eu dou, mas nem tudo que dou é porque me pediram. Só respeito à Lei do Grande da Luz e das Trevas e nada mais. É por isso que o Grande exige de mim, portanto é isto que eu exijo dos que habitam, o meu reino. Não faço chorar o inocente, mas não deixo sorrir o culpado. Não liberto o condenado, mas não aprisiono o inocente. Não revelo o oculto, mas não oculto ao que pode ser revelado. Não infrinjo à Lei e pela Lei não sou incomodado. Agora sabe de onde vem meu poder, senhor da Meia-Noite. Eu sou um dos sete guardiões da Lei nas Trevas; os outros seis, procure e a Lei lhe mostrará. – Por que o senhor não socorreu o Cavaleiro em sua queda? – Foi a Lei Maior que o determinou, por isto eu me calei. Mas quando Ela saiu em seu auxílio, eu arrasei o reino de Lúcifer para saber onde estava o Cavaleiro e acabei descobrindo pois foi a Lei que me ordenou que assim o fizesse. Ele teve que calar-se e entregar-me o culpado. – Obrigado, Guardião dos Sete Portais das Trevas deu-me uma lição sábia. Sou seu devedor. – Nada me deve, Senhor da Meia-Noite. Gosto de ensinar a quem quer aprender mas também gosto de castigar a quem aprende e faz mau uso do saber. Ele bateu o pé esquerdo e o recinto se encheu de entidades que haviam sido religiosos quando na carne. – Eis aí um exemplo do mau uso do saber. Eles aprenderam tudo o que precisavam para suas missões na terra mas não seguiram o que pregaram. Usaram do que sabiam em benefício próprio ou para arruinar aos que acreditaram neles. Olhe bem, Guardião da Meia-Noite e verá que os que se diziam sábios, iluminados, profetas, grandes lideres religiosos ou grandes sacerdotes não passavam de otários, idiotas, tolos, imbecis, cegos e mal intencionados. Verá entre eles todo tipo de defeito e nenhuma qualidade. Eram lobos uns pois se aproveitavam e comiam suas ovelhas e hienas outro pois se contentavam em consumir os restos deixados pelos lobos. Uns e outros hoje choram pelo erro cometido pela oportunidade perdida e pela luz não conquistada. Viveram do mundo e não pelo mundo. A Lei não os perdoou e os entregou a mim. Eu dou-lhes o que merecem porque sou um guardião da Lei das Trevas e esta é minha função. A Lei não iria colocar um ser bom e iluminado para castigar os canalhas nem colocaria um carrasco como eu para premiar aqueles que venceram suas provas. Não! Os guardiões da Lei na Luz tem uma função como a minha mas afeta à Luz: não deixam cair quem se fez por merecer à ascensão. Eu não deixo subir aos que se fizeram por merecer a queda. Eu sou a mão que castiga, a outra é a que acaricia. Eu sou a mão que derruba, a outra a que levanta. Tudo isto eu sou e ainda assim não sou infeliz, triste, arrependido ou ruim. Não sofro de remorso por castigar aquele que a Lei derrubou, assim como um guardião da Lei na Luz nada sente ao premiar a quem merecer. Eu sou o que sou, um guardião da Lei nas Trevas e me orgulho disto porque sei que sou necessário à Lei. E tudo isto você também é, ou será se assumir todo o seu passado, resgata-lo e se sentir feliz em servir à Lei. Ela o recompensará quando assim quiser, não porque você peça qualquer recompensa pelo seu trabalho mas porque serve-a sem se lamentar por estar nas Trevas pois Luz e Trevas são os dois lados do Criador. Há os que trabalham durante o dia e dormem à noite mas também há os que trabalham de noite e dormem durante o dia. Há os animais que só saem de sua morada sob o sol e aqueles que só o fazem sob o luar. Há o verão mas há também o inverno. O que um aquece o outro esfria e vice-versa. Há a primavera mas há também o outono: O que um faz brotar o outro faz se recolher e vice-versa. Há o fogo para queimar e a água para saciar a sede. Há a terra para germinar e há o ar para oxigenar. Há tantas coisas e no fim são somente partes do Um. Por isto lhe digo, Guardião da Meia-Noite há os anjos e há os demônios. Os anjos habitam na Luz e os demônios nas Trevas. Uns não condenam aos outros pois sabem que são o que são porque assim quis o Criador. Aqueles que vivem no meio é que criam tanta confusão com suas descidas na carne. Do nosso lado não há nada disto. Cada um sabe a que lado pertence. E os que não sabem, são os primeiros de quem nos apossamos. Esta é a Lei que nos rege e a todo o resto da Criação. Mais não vou falar pois precisaria de muito tempo para tal coisa. Espero que possa sair daqui melhor servidor da Lei do que quando chegou. – Eu agradeço suas palavras, Guardião dos Portais. Pena que eu seja muito pequeno para ajuda-lo, senão eu diria: se precisar de minha ajuda é só pedir! – Pois ainda lhe digo que a maior das pirâmides não prescinde da menor de suas pedras; a maior das aves de sua menor pena nem o maior teto de sua menor telha; e nem o maior corpo do seu menor dedo. O maior rio não rejeita a menor gota da chuva nem o maior exercito ao seu mais fraco soldado. O maior rico é aquele que valoriza o menor dos seus bens. Muito mais eu poderia dizer mas me satisfaço em dizer-lhe: obrigado Guardião da Meia-Noite! Se eu precisar de seu auxilio não terei vergonha em lhe pedir pois por terem vergonha muitos morrem. Morrem por terem desejado algo e não terem provado seu gosto. Vergonha não faz parte do meu vocabulário e a palavra que mais prezo é a que se chama”respeito”. Aja assim e não será traído nem odiado, mas respeitado. Nem os maiores passarão por cima de você e nem os menores lhe escaparão. Ele parou de falar. – Até à vista, Guardião dos Sete Portais das Trevas! – Até à vista, Guardião da Meia-Noite!