Esta obra é um lançamento da Editora Dufaux e trata-se de um clássico de Ermance Dufaux, que foi publicado originalmente em 2007 e agora vem com novo formato e com linguagem contemporânea.
Ermance Dufaux, para quem não sabe, foi médium na França e colaborou com os trabalhos de Allan Kardec.
Neste livro a autora aborda a necessidade de descobrirmos o prazer de viver. Sim, afinal muitos de nós espíritas e espiritualistas ainda estamos presos a noção de carma como um fardo que devemos carregar “custe o que custar” e vamos caminhando com muita dificuldade, temores e angústias.
Várias pessoas sinceras e motivadas pelo ideal de servir e aprender se rendem às suas provas e dores particulares, acreditando que somente após a morte encontrarão a libertação. Transferem para a vida dos espíritos uma expectativa de alívio e salvação em razão do sofrimento de cada dia.
Toleram provas difíceis passivamente, sem a mínima iniciativa que possa defendê-los ou resturar as energias diante de golpes dolorosos dos testes. Afirmam que resgatam carmas e prosseguem contando os dias para que algo ou alguém venha acabar com seus dramas (…) Sofrer por sofrer não liberta. (pg 39)
Para Ermance, Deus espera que sejamos felizes, que nos amemos e aprendamos a nos perdoar. Devemos evitar atitudes derrotistas usando o Espiritismo como desculpa. Ela nos conta que muitos são os trabalhadores que chegam ao plano astral esperando, enfim, livrarem-se de suas angústias terrenas e acabam ainda pior, pois percebem que cuidaram muito da Doutrina mas esqueceram-se de si.
Fomos criados para sermos felizes e superarmos as nossas provas. A reencarnação significa um sublime endosso de Deus ao nosso recomeço. É uma nova chance para continuar(…) Reencarnar é com Deus, renascer é conosco. Eis o segredo do verdadeiro prazer de viver: reconhecer que somos os escultores de nosso destino e as únicas criaturas responsáveis por emperrá-lo ou direcioná-lo para alcançar o ideal de ser feliz. (pg 48)
A benemérita entidade também nos apresenta a forma de trabalho no Hospital Esperança – do qual faz parte, juntamente com Dona Modesta, Pai João, Dr. Inácio, entre outros elevados servidores do bem – a fim de auxiliar os irmãos desencarnados a encontrarem seu prazer de viver: resgate da arte de sonhar; desenvolvimento da honestidade emocional; educação da carência afetiva; morte da idealização; cura da ignorância e sentido de continuidade da vida.
É preciso que saibamos combater a inveja, o ciúme, o melindre. Esta melhora depende da capacidade de nos amarmos e perdoarmos quem nos magoou.
Nossas reflexões podem parecer um tanto fora da realidade para alguns, mas foram todas inspiradas na palavra e na ação de pessoas que souberam materializá-las em reencarnações vitoriosas (…) Não será demais afirmar que quando não conseguimos concretizar o amor em atitudes, a tendência é escravizá-lo a belos raciocínios com o intuito de aliviar nossa consciência e adiar um tanto mais nosso tempo de amar. (pg 99)
Outro ponto importante apontado por Dufaux é sobre o purismo doutrinário. Muitos amam a Doutrina e se esquecem de amar o próximo. Para ilustrar tal afirmação, a autora utiliza de uma consulta entre o Dr. Inácio e um doutrinador recém-desencarnado, que fica incorformado de não receber um tratamento diferenciado no Hospital Esperança e qual não é sua decepção quando descobre que seu mentor servia em um centro de Umbanda.
– O senhor foi um excelente doutrinador. As notas de sua ficha, no entanto, falam em rigidez de conceitos e acusação. Aquilo que escapulia do padrão de seu entendimento era alvo de suas críticas ou de atitude de indiferença.
-Um direito que me assiste. Não tenho obrigação de aceitar as adulterações ao pensamento espírita. O senhor não concorda?
-Quanto a isso eu concordo. Daí a ter de desprezar e maldizer pessoas a tarefas…
-Apenas defendia a pureza de nossos princípios.
-É sempre assim! Ah os puristas! Amam a doutrina e deixam de amar o obejto moral de valor da p´ropria doutrina que tanto amam, o próximo. (pgs 161 e 162)
Ermance Dufaux utiliza de conceitos da psicologia e da psicanálise para abordar temas importantes, tais como carência afetiva, orgulho, vaidade, inveja, ciúmes e crise de meia idade.
Uma das necessidade mais naturais do ser humano é poder contar com a aprovação e a admiração alheia, nas quais encontra afeto, carinho e o estímulo para sua caminhada de cada dia. Algumas pessoas, no entanto, são prejudicadas durante todas as fases da existência em função de problemas traumáticos da infância. Tornam-se pedintes viciados da atenção e reconhecimento dos outros para preencher a carência de autovalor que não conseguem encontrar em si mesmas.
Entre esses traumas lamentáveis a que são submetidas muitas crianças, verificamos a presença da insensibilidade de muitos pais e mães no que diz respeito às mais essenciais atitudes a serem adotadas: amá-las e ajudá-las a construir um autoconceito centrado da realidade. (pg 198)
Eu, particularmente, adoro os livros de Wanderley Oliveira. Me identifico muito com as ideias do Dr. Inácio, Dona Modesta, Pai João pois possuem uma visão mais universalista, abrindo nosso mental para mudanças, utilizando de exemplos práticos através de histórias ocorridas com os defensores do purismo após o desencarne. Enfim, este livro é encantador, daqueles que aquecem a alma. Recomendo fortemente a todos que desejam sair da mesmice e crescer rumo ao desenvolvimento pessoal e espiritual.
O livro possui 252 páginas, com a sempre impecável arte gráfica da Editora Dufaux. Traz ainda diagramas para que o leitor possa visualizar melhor o que foi escrito em cada capítulo.